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Férias: pais à beira de um ataque de nervos

por Simone Alves

Céu, mar, montanhas, qual a sua escolha para as próximas férias? O final das aulas e também do ano, estão chegando, e, junto com isso, expectativas de um tempo que, para alguns, pode ser o único momento de pausa durante o ano inteiro.

Para os adoradores do sol certamente as opções são muitas, já que é tempo de calor e verão, e se falarmos em termos de Rio de Janeiro, temos tudo isso disponível na natureza, à espera de quem queira usufruir.

Para muitas pessoas, se divertir é crítico quando estão tentando ser produtivas e eficazes e acreditam estarem até perdendo tempo pensando em pausa e diversão. Pode ser que acreditem também que seu trabalho já lhes dêem tanta satisfação que representa por si só o lazer, não sendo necessária nenhuma outra fonte de reciclagem de energia.

Na verdade, todos nós precisamos de pausas, e é muito importante termos um cronograma viável entre lazer e trabalho. Mais do que ter aqueles trinta dias inteiros de férias, é muito importante que cada pessoa conheça os seus próprios critérios de lazer e descanso, aquilo que faz reabastecer, e que realmente tem potencial para fazer bem, acalmar a mente o suficiente para descobrir novas rotas de criatividade e estar pronto para os desafios do dia-a-dia.

Mais desafiante ainda pode ser conciliar seus próprios critérios com os critérios da família, dos filhos e tudo mais. Muitas vezes o que resta nesses casos como lazer é o lazer dos outros. Uma vez atendi uma mãe cuja única diversão era olhar as vitrines no shopping enquanto aguardava um dos filhos sair da aula de inglês. O que mais me chamou atenção no caso dela, era o fato que dos três filhos juntos somarem quase 30 atividades semanais. Para essa mãe isso representava, certamente, um “pout-porri de emoções”, entre ir e voltar, levar e buscar. Ela ficava tão preocupada e estressada se torturando, pensando no que tinha que fazer em seguida, que uma vez cochilou no estacionamento do supermercado, depois de ter procurado, sem sucesso, sua lista de compras, e após um murro no volante, seguido de um sonoro: “- Não aguento mais!!!”. Esta não fôra a primeira vez que se debulhou em lágrimas por estar agitada, mas certamente tinha sido uma que conseguira ouvir alto o suficiente para concluir que precisava dar um rumo diferente à sua rotina diária. Muitas vezes, somente amplificando o sinal é que uma parte interna de si mesmo consegue ser ouvida. Aquele cochilo após a explosão a fez despertar, não apenas para seu estilo de vida, mas também para um sentido maior de realização na vida. Não era nada parecido com o que havia planejado.

Ela me contou também, que após chegar estressado do trabalho, seu marido ficou um tempo falando no celular com alguém, ao mesmo tempo em que ele procurava, pasmem, o celular em sua pasta! Ele falava: - Onde está meu celular?... Demorou um tempo para desconfiar que jamais poderia encontrar o celular na pasta, uma vez que o aparelho estava em sua própria orelha! O nível de irritação em que ele se encontrava era grande e fazia tempo que não conseguia chegar antes de 22h em casa devido a intensa demanda de trabalho e também para manter o padrão financeiro da família. As crianças não ficavam atrás em termos de insatisfação – estavam agitadas e com dificuldades na escola. Juntos, eles tinham uma grande lista de coisas que estavam tolerando além do possível.

Um pouco de agitação pode até ser estimulante, mas o estresse continuado pode interferir no aprendizado e na memória, além de deprimir o sistema imunológico. Afeta também o sono – grande repositor de energia vital do organismo. Quem está nesse processo muitas vezes se alimenta mal, ou seja, essa fonte de reposição de energia normalmente também está aquém do desejado, fazendo com que o resultado final não seja lá muito promissor em termos de saúde e qualidade de vida. No caso dessa família, a abstenção de pausas e o automatismo do dia-a-dia estavam gerando um verdadeiro curto-circuito em seus estados mentais e emocionais e em seu relacionamento familiar.

Uma das questões que trabalhamos no processo de coaching foi o estilo de vida que estavam aderindo. Quais eram aqueles valores que estavam assumindo em suas vidas? Começamos um trabalho onde começaram a criar uma nova rotina para trabalho, lazer, família e descanso. Redefiniram regras, cortaram algumas atividades, abrindo assim mais espaço para ficarem juntos, o que no critério deles era muito importante. Passaram a priorizar e honrar valores e necessidades importantes que estavam sendo sobrepujados pela vasta gama de atividades, e dentre algumas atividades que eram consideradas essenciais para os filhos, estes puderam escolher as que lhes eram mais prazerosas.

Este é um exemplo do quanto um estado desejado de qualidade de vida pode estar comprometido. Neste caso, férias certamente seriam bem vindas, mas o fundamental era realmente a revisão de suas rotinas e escolhas; reavaliar onde se estava colocando a atenção, levando em conta as necessidades, não somente suas, mas do sistema familiar. Isso pode implicar em toda uma reestruturação a nível de crenças e valores, muitas vezes até da própria identidade, onde precisamos ter certeza de que a pessoa está fazendo mudanças com um modelo de mundo onde há possibilidades e que está à altura daquilo que está estabelecendo como metas.

Quando se fala em férias, o mais importante não é ter uma fábrica de idéias, mas uma fábrica de alternativas para boas idéias, muitas vezes bem simples. Viagens robustas com roteiros extensos podem estar longe de serem revigorantes se, troca de avião, trâmites de aeroportos e arrumação de malas for um terror para aquela pessoa. Neste caso a viagem pode ser um passaporte para o cansaço e frustração. Flexibilidade é um dos pressupostos da PNL – Programação Neurolinguística, e nos diz como é importante termos vários caminhos para alcançar nossos objetivos. Se flexibilizamos os meios podemos acertar o alvo. Termos no mínimo 3 escolhas é um bom número que o cérebro gosta de processar para chegar ao estado desejado – alcance de um objetivo.

Na hora de adiar ou mexer nas suas próximas férias, lembre-se de que necessidades não atendidas se tornam carências, e estas cedo ou tarde sugam energia para quitar pendências. Carências atraem mais carências. Que energia vai se usar para sustentar as metas de vida quando se está o tempo todo utilizando-a para quitar pendências?

Para que as próximas férias não se tornem uma espécie de “mico-leão-dourado na vida” pode ser que um bom roteiro para o tema férias seja incluir um pouso no planejamento. Desta maneira, pode-se avaliar, fundamentar e redirecionar as ações para aquele foco que deseja. Pode perceber suas necessidades e o que está deixando de lado. Pode concluir que nem precise ir muito longe para sentir-se bem. Pedalar, por exemplo, é um dos passatempos preferidos dos cariocas. O trecho com o pão de açúcar ao fundo é um dos mais bonitos da cidade. Que tal experimentar?

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