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Ansiedade, Saídas Possíveis



Mais de um terço da população mundial sofre de ansiedade. O Brasil tem aparecido sempre entre os primeiros da lista e tem mais de 9% da população com algum tipo de transtorno de ansiedade. São mais de 18 milhões de pessoas. As mulheres sofrem com transtornos de ansiedade duas vezes mais do que os homens.


Vivemos na sociedade do automatismo, do consumo de massa, hedonista, que busca a satisfação imediata de suas necessidades, a vitória fácil, a qualquer custo, sem que se esteja pensando sobre o que é realmente importante. A indústria do entretenimento é uma grande prova disso, um paradoxo. Nunca tivemos acesso a tantas coisas e informações, e ao mesmo tempo uma geração tão triste, depressiva e agitada, com diversos transtornos de ansiedade e de humor.


A tecnologia trouxe um grande progresso, mas em contrapartida valores essenciais se perderam. Somos estimulados o tempo todo a ter rapidez, pensar e agir para ter resultados. As pessoas querem ter seus desejos atendidos prontamente, e com isso um consumo ilimitado, inclusive de informação. Mas a informação está cada vez mais fragmentada, e é como se por dentro ficássemos fragmentados também. O córtex cerebral fica viciado nos sistemas de recompensa e quase nenhuma satisfação real está presente.


Temos muito mais repetidores de informação do que pensadores. As redes sociais nos mostram isso. As pessoas saem muitas vezes compartilhando informações sem conhecer sequer a fonte delas.


Esta hiperestimulação sobrecarrega nosso sistema nervoso e estamos constantemente ativando as áreas de sobrevivência do nosso cérebro. A parte mais nobre, responsável pelo intelecto, não dá conta de toda essa agitação mental. Não elabora as informações e muito menos as experiências de dor, perda e frustração inerentes à vida, para então conseguir respostas mais adaptativas e saudáveis.


O tempo para o intelecto não é o mesmo tempo da emoção. O tempo da emoção é rápido e vai direto para nosso lado mais primitivo de sobrevivência - lutar, fugir ou congelar. Temos uma parte do nosso cérebro, inconsciente, que está o tempo todo cuidando do seguinte: eu estou aqui, estou confortável, não estou confortável, estou sentindo calor, frio, eu posso confiar nessa pessoa ou não? Então é uma parte que está o tempo todo cuidando da nossa base de sobrevivência.


Nosso intelecto não consegue processar todo o volume de estímulos do ambiente na mesma velocidade com que as informações são percebidas neste nível mais profundo. Para entender isso um pouco melhor é importante sabermos um pouquinho do funcionamento do nosso cérebro.


Temos dois grandes modos de pensar: um modo mais intuitivo, emocional, rápido, e um modo mais lento, lógico, que processa as informações. Esse processamento exige mais tempo. Vivemos constantemente ativando nosso cérebro mais primitivo, responsável pelas reações automáticas e emoções como a ansiedade.


Então por um lado tivemos um grande avanço, mas por outro vivemos em uma verdadeira idade da pedra quando se trata de inteligência emocional.


Precisamos desenvolver empatia, capacidade em lidar com a dor e tolerância à frustração.


Encorajar as crianças a desenvolver atividades mais lentas e lúdicas, como ouvir músicas tranquilas, tocar instrumentos, pintar, praticar esportes, fazer teatro, estar com a natureza, todas estas são atividades que ajudam na regulação do nosso cérebro, destes sistemas complexos que são tão diferentes. Importante incluir o tempo para não fazer nada, estar consigo, descansar. Isso é vital para o nosso cérebro.


Precisamos entender que a natureza da mente é estar no passado, remoendo as dores, ou no futuro, antecipando tragédias. Então como lidar com a nossa mente? É importante desenvolver atenção plena, estar no momento, respirar, refletir, pensar, sentir, esta é uma técnica também - atenção plena, que envolve respiração e observação - a chamada Mindfulness, que tem sido cada vez mais associada à Psicoterapia como adicional no tratamento.


Foi feita uma pesquisa na universidade da Califórnia em Riverside com crianças de 3 a 9 anos. Eles dividiram crianças que estavam acostumadas com o estilo de vida ocidental, com acesso à tecnologia, e crianças da mesma idade que viviam em comunidades distantes da tecnologia. As crianças mais expostas a recursos tecnológicos se saíram melhor em testes que envolviam memória e cálculo. E as crianças mais afastadas da tecnologia apresentaram mais habilidades sociais, como tolerância e empatia.


É claro que a tecnologia nos presta um grande serviço e muitos avanços foram e podem ser feitos com este acesso. Não se trata de culpar a tecnologia. Porém, o que não se pode deixar de lado é a nossa capacidade de pensar. Neil Postman, famoso educador americano, falava do desaparecimento da infância e ele via o excesso de informação levando à uma impossibilidade de pensar. Entenda-se pensar como ter tempo e motivação para se perguntar: Qual o significado deste acontecimento? Qual é a minha história? Quais são as razões disso? Como isso se encaixa no que eu já sei do mundo?


As pessoas precisam ser levadas a pensar sobre isso, principalmente crianças e jovens. Do contrário estarão simplesmente reagindo aos estímulos excessivos que chegam, produzindo mais e mais ansiedade.


Tenho desenvolvido meu trabalho muito no sentido de promover exercícios que ajudem na regulação do nosso cérebro, pois o ser humano é a um só tempo físico, biológico, psíquico, cultural, social, histórico e espiritual. Trabalho com uma terapia cognitivo-comportamental, que basicamente busca a compreensão dos nossos pensamentos, sensações, emoções, e comportamentos. Estas são algumas formas de buscar o autoconhecimento que irá ajudar a lidar com ansiedade, depressão e outras desordens mentais.



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