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Falta de confiança ainda leva a mulher a se auto sabotar

Recentemente um artigo da revista Exame apontou que as mulheres, mesmo muito bem preparadas são temerosas quanto a promoções e outros tipos de avanços na carreira. Além do temor, as mulheres tendem a não se sentirem merecedoras do sucesso, chegando a atribuir o êxito à sorte. Para as jornalistas Katty Kay e Claire Shipman o fenômeno está diretamente ligado à baixa autoconfiança de muitas mulheres.

Katty e Claire são jornalistas e como tal convivem com homens e mulheres de sucesso: políticos, empresários, atletas. As jornalistas pesquisaram sobre questões genéticas, comportamentais e cognitivas para tentar entender e explicar a falta de autoconfiança nas mulheres. O resultado desse trabalho está no livro “The Confidence Code” (“O código da confiança”).

A falta de confiança nas mulheres é resultado de uma série de fatores. Do lado biológico, diferenças hormonais nas mulheres fazem com que elas sejam mais cautelosas quanto aos riscos e também de entrarem em conflito – algo muito natural do ponto de vista evolutivo, já que na natureza as fêmeas protegem a si e à sua cria. Ainda existe em nossa cultura uma ideia de que as meninas devem ser comportadas, meigas e carinhosas. Atividades que exijam muita energia, que a criança fale mais alto, entre em conflito e em competições, em geral não são consideradas femininas. Ou seja, duas poderosas forças se unem para reforçar o lado dócil e cauteloso da mulher. Elas comentam que “falar que os hormônios influenciam as atitudes femininas não é só um clichê, mas um fato: cientistas descobriram que a atuação do estrogênio (principal hormônio feminino) no cérebro faz com que as mulheres tenham mais facilidade em criar laços e conexões e mais dificuldade para discordar e correr riscos — essas últimas atitudes são, muitas vezes, necessárias para aumentar a confiança.”

Quando se é cautelosa demais ou simplesmente acredita-se que você não consegue realizar uma determinada tarefa, a mulher acaba optando por não se arriscar. Não se arrisca para se candidatar à promoção, tem dificuldade em defender seu ponto de vista e expressar uma opinião em uma reunião. O resultado? A carreira fica estagnada. Como as próprias autoras escreveram na revista The Atlantic, “o resultado natural da baixa confiança é a inércia. Quando as mulheres hesitam porque não têm certeza, nós mesmas puxamos o freio”. Ou seja, a auto sabotagem acaba se tornando um padrão de conduta.

É incrível como este movimento aparece de modo disfarçado. Eu poderia dar exemplo de várias mulheres bem sucedidas, tanto amigas como clientes, que ocupam cargos de liderança, apresentam resultados significativos em suas empresas, passam uma imagem de mulheres competitivas, e muitas vezes até agressivas, mas em seu íntimo sentem-se fragilizadas e extenuadas com o ambiente corporativo, como se tivessem um teto de crescimento invisível, o qual não conseguissem ultrapassar. Estes são definidos por seus próprios fantasmas de inadequação e medo.

Ainda há alguns mitos que atrapalham e acabam minando a energia da mulher e interferem no nível de autoconfiança que ela experimenta:

MITO DA MULHER MARAVILHA

Este mito é responsável pela ideia inatingível de que a mulher pode dar conta de tudo, lar e trabalho, 100% perfeito. Neste caso existe a ideia de que ninguém fará as coisas de forma apropriada, ela sempre fará melhor. E ela acredita que se não fizer bem suas tarefas em casa como no trabalho, então estará falhando em seu papel como mulher, dona de casa, mãe, etc. Dessa forma, a autocrítica aumenta, e a confiança diminui. Delegar tarefas em casa e no trabalho é a melhor saída, mas para muitas mulheres deixar de ter o controle sobre como cada detalhe irá acontecer é desestabilizador. Se entrarmos no quesito filhos então, a questão tem uma complexidade ainda maior.

MITO DO EQUILÍBRIO

Outro mito é o a ideia de que se deve ter um equilíbrio entre as várias dimensões da vida como mulher, profissional, esposa, amante, mãe, filha, etc. Criou-se a ideia de que é possível encontrar uma harmonia entre tudo isso e, assim como no mito da mulher-maravilha, se a mulher não alcança essa harmonia, ela está fracassando, e mais uma vez, a autoconfiança vai lá pra baixo. Esquece-se de que a vida é dinâmica e sempre haverá arestas e pontos a serem ajustados.

Segundo Marcus Buckingham, autor de O Poder das Mulheres Fortes, “ao atingir o ponto de equilíbrio, você está na posição perfeita para iniciar um movimento. Equilíbrio é o oposto de movimento. Ao se equilibrar você fica estática, segurando a respiração, tentando evitar qualquer gesto brusco ou empurrão que possa incliná-la demais para um lado ou para o outro. Você está paralisada. Busque em vez disso sentir-se preenchida. Seu desafio é colocar sua vida em movimento, balançar para um lado ou outro e intencionalmente desequilibrá-la em direção aqueles momentos específicos que irão preenche-la.”

E, Katty e Claire afirmam que, nem o lado biológico e nem o lado social são uma condenação perpétua. Segundo elas “confiança se adquire”. Para ganhar confiança em si mesma, é preciso agir, pensar menos e arriscar mais. Pensar nos riscos é importante, mas eles não podem impedir o desenvolvimento de planos, sejam eles de trabalho, sejam na vida pessoal. Na verdade, uma mulher com confiança é uma dessas mulheres que “ninguém segura”, afinal de contas, ela tem o preparo, tem confiança e tem um “taco especial” para identificar riscos.

Algumas dicas importantes para sair do perfeccionismo em direção à ação:

  • Conhecer a si mesma: quais os pontos positivos e os que precisam ser melhorados?

  • Aprender a reconhecer quando seu sucesso foi fruto do seu empenho e competência e qualificar isso;

  • Desenvolver um plano de ação: o que eu quero e que armas preciso para conquistar meu objetivo? Como conseguir essas armas?

  • Sair da zona de conforto – assim você acessa sua Zona de Coragem;

  • Substituir o perfeccionismo por “dar o seu melhor”;

  • Delegar tarefas, tanto no trabalho, quanto na vida pessoal.

Um Coach pode ser um ótimo aliado na busca para deixar de lado o fantasma do perfeccionismo, aprender a se priorizar dando autonomia a sua equipe e/ou aliados e a ganhar confiança em si mesma.

Uma terapia também pode ajudar bastante, principalmente se houver conflitos ou traumas mais profundos associados à falta de confiança.

A confiança é mais do que um caminho para alcançar o sucesso: ela não só ajuda a mantê-lo, como pode ser a garantia para ter aquilo que é o essencial: uma vida com sentido e com prazer de viver.

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