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Superação de Traumas: Como a Psicoterapia Pode Ajudar?

Em meados dos anos 1950, dificilmente alguém conseguiria imaginar, por mais visionário que fosse, o salto tecnológico que a humanidade conquistaria no decorrer das décadas seguintes. Espanta o resultado de uma análise aprofundada, por exemplo, a respeito das inovações na área da comunicação. Cada vez mais, a mídia leva a notícia em grande velocidade, a qualquer canto do mundo. Os acontecimentos são informados em tempo quase real e chegam a número surpreendente das mais diversas pessoas. As Redes Sociais cumprem o papel de suprir as lacunas, vez ou outra, deixadas pela imprensa.

Quem não se lembra da transmissão quase instantânea dos eventos do fatídico dia 11 de setembro de 2001? Tal cobertura por parte dos veículos de mídia igualmente noticiaram as mensagens SMS, postagens em blogs, ou redes sociais, que as vítimas daquela tragédia enviavam aos seus parentes minutos antes de seu holocausto.

Acontecimentos semelhantes se repetem a cada catástrofe. Tais cenas, de destruição tamanha que nenhum pintor surrealista poderia imaginar, têm vários elementos em comum. Um deles é certamente a cobertura ostensiva e veloz promovida pela imprensa através das inovações tecnológicas que as últimas décadas nos legaram.

O que acontece, no entanto, quando os holofotes da mídia se cansam de ilustrar aquela tragédia, e focam outras questões mais recentes? Os telespectadores, tendo ou não se solidarizado, seguirão vivendo. Os sobreviventes também deverão prosseguir, porém, com qual ânimo, estado de espírito, mentalidade? Muitos deles perderam pais, filhos, maridos, esposas... perderam suas residências, empregos, bens...

Algumas dessas pessoas, ainda carentes de apoio, se mostrarão possuidoras de incrível força, e se dedicarão com brio à “reconstrução de sua cidade”. Outras, contudo, não conseguirão lidar tão bem com as consequências da tragédia. O que acontece para que testemunhemos reações tão paradoxais perante a mesma catástrofe?

Não se pode generalizar, entretanto, visto que as tragédias a repercutirem traumas, na maioria das vezes, advêm contornadas por questões estritamente pessoais. A perda de um parente por causas ditas naturais, o divórcio, aborto, ataque cardíaco, amputações, câncer, Aids...

Igualmente, quando se trata de tragédias as quais muitos denominam como pessoais, há quem demonstre grande força na retomada de sua vida, assim como cerca de 8 a 10% da população, segundo estudos epidemiológicos, passa a sofrer do chamado Transtorno de Estresse Pós-Traumático (TEPT). É certo, no entanto, que a maioria de nós já se confrontou com uma situação que pode ser tida como um trauma.

Tais situações impõem algumas fases não lineares ao indivíduo. Desespero, incredulidade, medo, raiva revolta, desamparo, depressão. Só então eles se abrem à ressignificação, ao fortalecimento, ao recomeço. Nem todas as pessoas, porém, conseguem aceitar, fortalecer e recomeçar, sem o devido apoio.

Segundo o psicólogo e neurocientista Júlio Peres, “os eventos traumáticos levam a uma profunda desorganização psicofisiológica, desafiando alguns dos mais básicos pressupostos sobre a segurança e natureza do mundo”. A maneira como a vítima do evento estressor percebe o mundo, no entanto, é que poderá ou não fazer com que a ocorrência repercuta em traumas psicológicos.

Os sintomas de TEPT são os mais diversos, mas geralmente implicam profunda angústia, sensação de se estar preso, perda do controle, colapso das crenças básicas, percepção de que a vida está sempre em perigo, desamparo, paralisia, etc.

A tarefa do terapeuta é ajudar o indivíduo a aliviar o sistema e ensinar ao cérebro, sobrecarregado pelo excessivo e bom trabalho de proteção, que existem opções para lidar com os conflitos de um modo mais confortável. Desenvolver habilidades de adaptação e enfrentamento das situações levará o acometido pelo transtorno a perceber os problemas como oportunidade de crescimento, integração das capacidades e recursos internos, estabelecer objetivos que o levem a achar significados para a sua vida, construir um “estado desejado” acrescentando recursos ao “estado atual” e repercutindo em novo sentido à vida.

O meu trabalho com pessoas que desenvolvem o Transtorno do Estresse Pós-Traumático envolve um ciclo de doze a quinze sessões seguidas de posterior avaliação dos resultados. A anamnese pode levar mais de uma sessão e tem como base informações amplas e precisas sobre o evento traumático pelo o qual o paciente passou. Dá-se então a terapia de exposição e reestruturação cognitiva. Tal terapia se respalda em vários exercícios reestruturais calcados nos conhecimentos da neurociência.

Um dos recursos utilizados consiste na visualização criativa, bem como na exposição imaginária, pois fortalecem as redes neurais da superação. Minhas extensas pesquisas no campo das neurociências enriquecem significativamente a prática clínica.

Durante o processo de superação, remove-se não apenas o temor e sensação de vulnerabilidade, que, por exemplo, paralisam o indivíduo a ponto de ele raramente sair da cama ao longo de todo um dia, mas também se alcança a reconstrução das crenças básicas adquiridas ou destruídas pelos eventos traumáticos.

O passado deixa de assombrar o paciente, que passa a lidar com ele de forma re-significada, e os acontecimentos atuais não mais são interpretados como potenciais situações de risco. A adaptação ao presente acontece naturalmente e os elementos não mais remetem ao trauma da maneira sofrida de outrora. A pessoa, enfim, pode seguir adiante.

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